Os bicos de viver

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Eu de verdade que quero parar, mas ainda não houve, não há a sensatez amorosa para tal. Quando mais desejamos, menos conseguimos. Quanto mais planificamos, menos delineamos o projecto. Quanto mais penso, menos tempo vivo. Claro, que há pedras no nosso percurso, claro que há rumores de apatia, claro que há interesses egoístas, claro que há desencantamento em cada passo nosso. Mas será assim tão claro? Ou simplesmente, uma vontade indefesa do ir, da procura pelo nosso querer, da busca do nosso achar que sabemos viver?
Desnorteada alguns dias, definida noutros poucos dias. A maioria dos ditos dias são, na verdade, viver. E há medida que o tempo existe e, de existência é o que o tempo sabe mais sentir, eu procuro, tu procuras. Nós procuramos. Que vamos encontrar nós? Haverá resposta para o percurso do nosso tempo? Acharemos que a luz é poderosa demais para nós? Ou apenas a luz se manterá no nosso pedestal?
Tenho-te a ti algures no mundo, tenho-me a mim algures no real. Temo-nos, a nós, algures no espaço.
Mesmo com donas, com donos e com alicerces, a verdade é que nós somos todos um beijo proibido que deambula onde mais quer e, com a certeza que a ascensão é uma incógnita e a obsessão é uma linha. Linha fina e desequilibrada. Linha perspicaz de utopias. Linha carregada de pecados. Linha incerta de atitudes.
Nesta linha todos nós estamos, com mais ou menos medo.
Somos a personagem que mais queremos existir.
Somos a desigualdade do nosso mais decalcado pensamento.

Saudades de voar

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Surge uma pressão silenciosa, ténue e fugaz. Ah, como sentia saudades! Como sentia saudades não da pressão, mas dos sentimentos turbulentos e, ao mesmo tempo, pacíficos que se criam em mim…que saudades que sentia de relembrar como é bom estar sozinha aqui. Como há uns anos atrás eu jurei que a minha vida seria preenchida destes sentimentos e, como foi possível eu ter medo de os sentir, de novo?
Como é liberdade falar, olhar, deambular com estranhos. Não sei quem é, não sabe quem sou. Posso criar a minha vida em breves segundos e relatar o meu dia-a-dia com certeza e verdade irreal. Posso ser escritora, posso ser ginasta, posso ser mágica…posso ser tudo o que sentir ao falar contigo, aqui, agora.
Enquanto falas e eu tento ouvir a tua sonoridade rouca e lenta, só consigo focar o meu olhar nos teus lábios. Não são carnudos. Mas são bem delimitados.

Ouço o que desejo ouvir. Não ouço.
Imagino o que desejo ouvir. Imagino tão bem.
Enquanto falas, eu finjo que escrevo um email – disse eu.
Sou designer – disse eu.
Enquanto falas eu escrevo-te aqui,

Doce estou a sentir o meu corpo
Húmido estou a sentir o meu poder
Irrequieta estou a sentir-te
Os teus lábios continuam em movimento
O teu lábio inferior encanta-me
Sempre que falta o quase para o morderes
Quero-te eu,
Morder
Consigo mapear os teus lábios,
Com os meus olhos vendados
Aqui, agora

Enquanto te ouço,
Sou seduzida
Enquanto falas,
Toco-me
Enquanto falas,
Sinto-te
Enquanto falas,
Escondo-me
De ti, amanhã.

Colina da cidade

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Alcanço a colina mais alta
Desta cidade formal e altruísta
Deito o meu toque na pedra quente
Aqueço as minhas costas
Dispo o meu corpo para a cidade
Fico vulnerável por querer
Liberto a minha dor
Aqui,
Ontem e hoje!

Aqui,
Onde foste o meu amor
Aqui,
Onde me tiveste!

Agarro-me
És agarrado
Prendo-me
És preso
O teu corpo aurígero
Torna-se encarnado,
A derramar o meu sangue
Por todos os teus cantos

Gritas de dor apaixonante,
Ouço a tua voz
Comandas o meu ar
Asfixias o meu desejo
Descomponho-me sem saber,
Aqui,
Ali,
Na colina de Lisboa.

Acerbo vens tu
Entras,
Contraio-me toda

Melodioso ficas tu,
Tiro-te de mim
Beijas-me o corpo,
Ficamos para o não sempre!